Manuel dos Santos Lopes

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O CICLO DOS NOSSOS POETAS DESAPARECIDOS

Manuel dos Santos Lopes. Natural da Ilha de São Nicolau, Cabo Verde, nasceu em 23 de dezembro de 1907. Frequentou o liceu e escola comercial em Coimbra e, após quatro anos, regressou a Cabo Verde. Funcionário da Western Telegraph, primeiro em S.Vicente, depois, nos Açores e, mais tarde em Portugal. Aposentado, viveu em Lisboa, lugar onde faleceu em janeiro de 2005. Foi indiscutivelmente um dos principais elementos do movimento CLARIDADE

Esta recolha tem unicamente a finalidade de informar e ou fazer relembrar que a tradição literária em Lingua Cabo-Verdiana remonta á segunda metade do século XIX, o que equivale a dizer que é quase antiga como a tradição literária de expressão portuguesa. Um dos documentos elucidativos a este respeito é o Almanaque Luso-Africano (1ºvolume, 1894, 2º volume, 1899) do cónego António Manuel da Costa Teixeira do Seminário da Ilha de S.Nicolau, hoje extinto, que foi frequentado na época, por falta de Liceu, por figuras de maior relevo do nosso Arquipélago, como Aurélio Gonçalves, Pedro Corsino Azevedo, Baltasar Lopes da Silva, José Lopes e outros.

Dados extraidos da Antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa (Cabo Verde) “NO REINO DE CALIBAN”de Manuel Ferreira – p. Seara Nova 1975.

Trata-se porém de uma tradição essencialmente poética, embora naquele mesmo almanaque se encontrem alguns indicios da prosa dialectal... Na sua diversidade mas sob “Alfabeto Único” foram já apresentados no contexto Insular de Criolidades: Eugénio Tavares ( Brava ); Pedro Cardoso ( Fogo ); Sérgio Frusoni ( São Vicente ); Virgilio Pires ( Santiago ); Luís Romano ( Santo Antâo ); Gabriel Mariano (Santiago); Antonio Januário Leite ( Santo Antão ).

Prosseguimos no mesmo contexto esta nossa iniciativa de matéria informativa sobre nossos valores literários com Manuel dos Santos Lopes

MANUEL LOPES

Manuel dos Santos Lopes. Natural da Ilha de São Nicolau, Cabo Verde, nasceu em 23 de dezembro de 1907. Frequentou o liceu e escola comercial em Coimbra e, após quatro anos, regressou a Cabo Verde. Funcionário da Western Telegraph, primeiro em S.Vicente, depois, nos Açores e, mais tarde em Portugal. Aposentado, viveu em Lisboa, lugar onde faleceu em janeiro de 2005. Foi indiscutivelmente um dos principais elementos do movimento CLARIDADE.

Poeta, romancista, contista, ensaísta, conferencista. Duas vezes laureado com o Prémio Fernão Mendes Pinto e ainda o do Meio Milénio do Achamento das Ilhas de Cabo Verde, ambos para ficção.

Colaboração dispersa por vários jornais e revistas, além de Claridade, Atlântico, Cabo Verde. Participou no VI Congresso Iternacional de Estudos Luso-Brasileiros, realizado em Boston e Nova Iorque em 1966. Figura em: Poesia de Cabo Verde, Lisboa, 1944; amostra de poesia in Estudos Ultramarinos, nº 3, Lisboa, 1959; Antologia da ficção cabo-verdiana comtemporânea, Praia, 1960; Modernos poetas cabo-verdianos, Praia, 1961; Poetas e contistas africanos, São Paulo, 1963; Antologia da terra portuguesa --- Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Principe, Macau e Timor, Lisboa, s/d ( 1963 ? ); Literatura africana de expressão portuguesa, vol. 1, poesia, Argel, 1967; Literatura africana de expressão portuguesa, vol. 2, prosa, Argel, março, 1968; Contos portugueses do Ultramar, 1º vol., Porto 1969.

Publicou: Paul ( crónica ), São Vicente, 1932; Poemas de quem ficou,Angra do Heroísmo, Açores, 1949; Os meios pequenos e a cultura ( e ), Horta, 1951; Evocação Faialense ( folheto ), Horta 1958; Chuva brava ( r ), Lisboa, 1956, traduzido para o russo por Helena Riáusova, com o título Yarostnii livenh, Moscovo, 1972; O galo que cantou na baía ( c ) Lisboa, 1959; Reflexões sobre a literatura cabo-verdiana ou a literatura nos meios pequenos in Colóquios cabo-verdianos, Lisboa, 1959; Temas cabo-verdianos ( e ) Lisboa, 1950; Os flagelados do vente leste ( r ), Lisboa, s/d (1959); Crioulo e outros poemas, Lisboa, 1964.

Da autoria do nosso ilustre homem de letras que foi Manuel Lopes, seguem dois poemas que relevam já nos primórdios da sua existência como poeta, da sua grande evolução espiritual:


A MENINA FEIA


Essa menina de aldeia

era feia, tão feia,

que só saía ao sol-posto!

//

Um dia falei-lhe, --- ameia.

//

Era tão feio o seu rosto,

era tão feia, tão feia,

que dava pena e desgosto!...

//

Mas nesse dia

meu coração despertou:

desgosto mudou-se em gôsto:

//

...era tão belo

o que eu via

nela, por trás do seu rôsto...!

(Manuel Lopes)


C R I O U L O


Há em ti a chama que arde com inquieatção

e o lume íntimo, escondido, dos retolhos,

---- que é o calor que tem mais duração.

A terra onde nasceste deu-te a coragem e a resignação.

Deu-te a fome nas estiagens dolorosas.

Deu-te a dor para que nela

sofrendo, fosses mais humano.

Deu-te a provar da sua taça o agri-doce da compreensão,

e a humildade que nasce do desengano...

E deu-te esta esperança desenganada

em cada um dos dias que virão

e esta alegria guardada

para a mahã esperada

em vão...

(Manuel Lopes)

 

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